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Desliga o tablet! Vamos brincar!

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    multiclic
  • 11 de out. de 2023
  • 5 min de leitura

Numa era de evolução tecnológica e com a rápida proliferação da tecnologia e o seu uso pessoal no nosso quotidiano, as nossas crianças estão a crescer num mundo cada vez mais digital, tendo desde cedo acesso às tecnologias como televisão, tablet, computador e telemóvel, bem como acesso à internet. Estes dispositivos integram desde cedo as suas atividades diárias, quer para entretenimento como para uso educativo. Sendo por isto, cada vez mais importante entender como é que as famílias utilizam estas tecnologias, de modo a promover uma utilização responsável, protegendo as crianças dos riscos do seu uso (Dias & Brito, 2016).

O tempo despendido em atividades ao ar livre, com jogos tradicionais como o saltar à corda, ao esconde-esconde, macaquinho do chinês, andar de bicicleta, correr, entre outros, foram substituídos pelo uso contínuo de aparelhos eletrónicos no dia-a-dia, levando a que as crianças se tornem menos ativas, mais isoladas socialmente e mais sedentárias.



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Em contrapartida, devemos considerar que as tecnologias e o acesso a plataformas e conteúdos online, também proporcionam às crianças novas oportunidades de aprendizagem, sendo cada vez mais necessárias para o futuro dos jovens (Milovidov, 2017). No entanto, a excessiva e má utilização destas tecnologias e da internet, durante o desenvolvimento infantil é um problema de saúde pública, dado a associação negativa com o desenvolvimento de várias competências fundamentais da criança, quer cognitivas, motoras, comportamentais, como pelas implicações ao nível da saúde como maior propensão para o desenvolvimento de problemas de obesidade e manifestação de dificuldades no sono (Domingues-Montanari, 2017; Schwarzfischeret al., 2020).

No domínio comportamental, o mau uso das tecnologias comporta um impacto negativo, evidente pelo aumento da agitação, irritabilidade, maior desatenção, comportamentos desviantes e mais agressivos associados à dificuldade em gerir as suas emoções. Têm ainda impacto no padrão de sono, uma vez que os utilizam antes de irem dormir. Este comportamento afeta o sono pelo contacto com a luminosidade, que impede a produção de melatonina (hormona do sono), e ainda por promover a ativação, associada ao entusiasmo pelos conteúdos que a criança está a assistir, ficando mais desperta e com menos sono, adiando assim a hora de dormir para continuar a assistir. Desta forma, as crianças dormem menos e tem um sono menos tranquilo, tendo consequências funcionais no dia-a-dia, aumentando a sonolência, a agitação e irritabilidade, evidenciando mais comportamentos agressivos bem como mais comportamentos de desafio e oposição na imposição perante a definição de regras e limites (Guerreroet al.,2019).



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O tempo de uso das tecnologias também se associa a maiores atrasos no desenvolvimento infantil, dado os jogos não promoverem nem estimularem habilidades interpessoais, de comunicação e ao nível motor, pela falta de manipulação de objetos, a inexistência do caminhar e o correr. As crianças podem ainda ficar mais isoladas, diminuindo a interação com os cuidadores, limitando as aprendizagens através de trocas sociais verbais e não verbais no desenvolvimento das ideias e pensamento (Madiganetal., 2019). O uso de tecnologias limita atividades de faz de conta, comprometendo o desenvolvimento cognitivo, devendo ser promovido a criação de conversas e personagens imaginários, por exemplo do outro lado do telefone para desenvolver o pensamento abstrato e jogo simbólico (Delfin& Wang, 2023).

Mais se acresce ainda, que dado o maior sedentarismo, ocorre um maior risco de obesidade infantil (Schwarzfischeret al., 2020), sendo recomendado o menor uso de aparelhos eletrónicos e a promoção de atividades físicas mais ativas.

Este impacto poderá ser minimizado pelo uso correto das tecnologias, promovido por hábitos saudáveis em casa. Assim, a primeira mudança poderá ser nos hábitos adotadospelos progenitores, no uso diário destes aparelhos eletrónicos (devem evitar usar em casa) e no estabelecimento de horários/limites de tempo e tipo de conteúdo assistido pelas crianças. Em complementaridade, se queremos promover o desenvolvimento infantil devemos privilegiar a interação e tempo de brincar e partilha entre cuidadores e filhos sem o uso de aparelhos tecnológicos (Madiganet al., 2019). Se tem dúvidas em como monitorizar ou gerir os conteúdos visionados pelos seus filhos, contacte um profissional da área da saúde, para clarificar as suas dúvidas e criarem um plano de uso tecnológico em complementaridade com períodos de interação familiar.



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Os pais podem também ser facilitadores na criação de hábitos de sono, definindo uma rotina, com hora para deitar e promover atividades relaxantes antes de ir dormir. Assim antes de dormir não incluam os dispositivos eletrónicos, definam uma rotina agradável na hora de dormir, por exemplo, escovar os dentes, ler uma história e apagar as luzes.

Se as tecnologias são entendidas como importantes ao nível educativo e para o futuro das nossas crianças, sendo parte integrante no seu dia-a-dia, por outro lado devemos considerar a importância que o brincar tem no desenvolvimento infantil, devendo selecionar conteúdo que permita incluir o faz de conta, promova a criatividade da criança e liberdade de exploração (como criar regras e personagens) (Verenikinaet al., 2003).

Em conclusão e de forma sintetizada, segue uma tabela com as diretrizes definidas, pela Organização Mundial de Saúde, em 2019, de orientação com horário de sono, período recomendado de uso de tecnologias ou atividades mais sedentárias e atividades físicas, não recomendando o uso de tecnologias até aos 2 anos de idade.



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Gráfico 1. Realizado segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2019).



‌Referências Bibliográficas

Dias, P., & Brito, R. (2016). Crianças (0 aos 8 anos) e tecnologias digitais. Um estudo qualitativo exploratório. Relatório Nacional Portugal. Centro de Estudos de Comunicação e Cultura.

Delfin, A., & Wang, W. (2023). The influence of pretend “technologies” on children’s cognitive development in symbolic play. International Journal of Play, 12(3), 387–402. https://doi.org/10.1080/21594937.2023.2235474

Domingues-Montanari (2017) Clinical and psychological effects of excessive screen time on children. Journal of Paediatrics and Child Health, 53(4), 333-338. https://doi.org/10.1111/jpc.13462

Guerrero, M. D., Barnes, J. D., Chaput, J.-P., & Tremblay, M. S. (2019). Screen time and problem behaviors in children: exploring the mediating role of sleep duration. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, 16(105). https://doi.org/10.1186/s12966-019-0862-x

Madigan, S. Browne, D. Racine, N., Mori,C.,Tough,S. (2019). Associations Between Screen Time and Children's Performance on a Developmental Screening Test. JAMA Pediatrics, 173(3), 244-250. doi:10.1001/jamapediatrics.2018.5056

Milovidov, E. (2017). Parentalidade na era digital. Orientação parental para a proteção online de crianças contra a exploração sexual e abuso sexual. Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Schwarzfischer, P., Gruszfeld, D., Socha, P., Luque, V., Closa-Monasterolo, R., Rousseaux, D., Moretti, M., ReDionigi, A., Verduci, E., Koletzko, B., &Grote, V. (2020). Effects of screen time and playing outside on anthropometric measures in preschool aged children. PLOS ONE, 15(3).https://doi.org/10.1371/journal.pone.0229708

Verenikina, I., Harris, P., & Lysaght, P. (2003). Child’s play: computer games, theories of play and children’s development. CRPIT'03:Proceedings of the international fedration for information processing working group 3.5 open conference on Young Children and learning technologies, 34, 99-106. https://dl.acm.org/doi/10.5555/1082060.1082076

World Health Organization (2019). Guidelines on physical activity, sedentary behaviour and sleep for children under 5 years of age. Geneva: World Health Organization.

 
 
 

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