Práxis (Ideação, Planeamento motor, Execução): O que é? O meu filho pode ter dificuldades?

A práxis é essencial para a aprendizagem de novas ações. Esta é composta por três componentes: ideação (capacidade de conceptualizar uma atividade nova ou diferente), planeamento motor (capacidade de o cérebro organizar e sequenciar novas ações motoras), execução (capacidade de realizar ações motoras).

Assim, esta é a capacidade do cérebro organizar e levar a cabo uma sequência de ações não familiares. Ou seja, é o resultado de um processamento sensorial organizado, visto que a partir das informações sensoriais podemos planear e executar ações desconhecidas.

Desta forma, se nas atividades diárias encontramos uma atividade que nunca executamos antes, vamos automaticamente organizar todas as informações sensoriais que já temos e, assim, planear e executar a nova tarefa. Por exemplo: ao jogar à bola, recorremos a todas as informações sensoriais (visuais, propriocetivas, vestibulares, táteis, auditivas e etc.) já vivenciadas, para planear e executar a atividade desconhecida.

Vejamos este pequeno exemplo: Lembra-se de tirar a carta de condução? Lembra-se como era tudo tão difícil? A quantidade de atenção que tinha de dar aos pés e às mãos, aos sinais de trânsito, às prioridades e às mudanças? No tempo em que iniciava as suas aulas de condução, a sua atenção era exclusivamente para o processo de conduzir! Quem diria que agora é capaz de conduzir e mexer no rádio ao mesmo tempo! Para aprendermos a conduzir (e para aprendermos qualquer outra ação nova) precisamos da praxis. Esta capacidade do cérebro permite-nos planear e levar a cabo uma ação nova para que ela possa, posteriormente, ser automatizada!

Da mesma forma, para aprender a usar uma colher, um bebé precisa de planear o movimento, pensar o que pode fazer com aquele objeto e descobrir como fazê-lo. Isto quer dizer que, quando estamos a aprender algo novo, podemos precisar de praticar, mas, posteriormente, o cérebro adapta-se; o planeamento motor deixa de ser necessário, e a ação torna-se automática.

Assim, acabamos por fazer as tarefas espontaneamente, sem nenhum esforço consciente. No entanto, para as crianças com dificuldades na praxis, designadamente no planeamento motor, a ação não se torna automática, e necessitam de planear continuamente.

Assim, os défices ao nível da práxis, podem criar dificuldades nas várias áreas da vida da criança, como em aprender a usar objetos e brinquedos; escrever; recortar; e podem traduzir-se em comportamentos como:

• Escolher sempre os mesmos brinquedos;

• Passar de uma atividade a outra com frequência, não concluir atividades;

• Ao desenhar, fazer sempre as mesmas figuras;

• Ser desajeitado, esbarrar em tudo o que encontra;

• Ter dificuldade em pegar numa bola, antecipar um movimento;

• Preferir, frequentemente, atividades mais sedentárias;

• Apresentar dificuldades na alimentação, vestuário e higiene pessoal;

• Apresentar dificuldades na imitação;

• Evitar situações novas, frustrar-se facilmente. Contudo, à medida que o processamento sensorial se torna mais organizado e se consegue uma melhor integração sensorial, vão surgindo progressos. Muitas vezes o primeiro sinal desse progresso é uma ligeira melhoria na autoestima e mais vontade de tentar fazer coisas que não gostava de fazer anteriormente.

Desta forma, pode ajudar o seu filho a melhorar, realizando:

• Brincadeiras de imitação, faz de conta, jogos de tabuleiros, de puzzles e de bolas;

• Passeios de bicicleta;

• Atividades domésticas: ajudar a pôr a mesa, a preparar a massa de um bolo, a estender/dobrar a roupa, arrumar o quarto e os brinquedos, por exemplo.

Se acha que o seu filho demonstra dificuldades ao nível da praxis, não hesite em contactar-nos para o ajudar e realizarmos uma avaliação.

A Terapeuta Ocupacional

Cátia Carvalho

Referências: A.Jean Ayres. Sensory Integration and the Child: 25th Anniversary Edition. 2005. May-Benson, Teresa & Cermak, Sharon. (2007). Development of an Assessment for Ideational Praxis. The American journal of occupational therapy : official publication of the American Occupational Therapy Association. 61. 148-53. 10.5014/ajot.61.2.148. Abelenda, Judith & Mailloux, Zoe & Roley, Susanne. (2015). Dyspraxia in Autism Spectrum Disorders: Evidence and Implications. SI SIS Quarterly. 38. 1-3. Natasha Patten BSc . Dyspraxia from an Occupational Therapy perspective. Goldstein, Ariela. Terapia Ocupacional Pediátrica. Planejamento Motor. 2009. OTFC, Group. Praxis: It´s not just motor planning. Kid, Sense. Dyspraxia. Franco, Johanna. Terapia Ocupacional Infantil. Planejamento Motor. 2009